Curso de calceteiros forma 57 profissionais para manutenção de pisos em pedras portuguesas

Publicado em 06/10/2022 - 12:49 | Atualizado em 06/10/2022 - 17:04
Os certificados foram entregues em cerimônia realizada no Palácio da Cidade - Rafael Catarcione/Prefeitura do Rio

A Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Conservação, em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda, preparou para o mercado mão de obra especializada na arte da calcetaria, que é a técnica de revestir ruas e calçadas. O curso de formação de calceteiros durou pouco mais de um mês e formou 57 profissionais capacitados para fazer a manutenção de pisos em pedras portuguesas, entre trabalhadores já contratados por empresas, que foram se aperfeiçoar na função, e pessoas buscando uma oportunidade. Todos os alunos que procuravam recolocação já estão encaminhados para vagas de emprego. A cerimônia de entrega dos certificados foi realizada nesta quinta-feira (6/10), no Palácio da Cidade, em Botafogo.

O conteúdo do curso foi dividido em aulas práticas e teóricas, além de visitas guiadas a locais icônicos como o calçadão de Copacabana e as calçadas do Theatro Municipal e da Cinelândia. Em sala, os participantes puderam conhecer a história da Calçada Portuguesa, ter noções de empreendedorismo e aprender sobre segurança do trabalho e utilização de materiais e moldes para confecção de Calçada Portuguesa, entre outros temas.

O curso capacitou os alunos na manutenção de pisos em pedras portuguesas – Rafael Catarcione/Prefeitura do Rio

 

Os alunos receberam todo o material necessário, como apostila, uniforme, EPI (Equipamento de Proteção Individual) e martelinho. A parte prática, a cargo de Gedião Azevedo, único Mestre Calceteiro da Conservação, foi dividida entre a confecção do mosaico comemorativo do Bicentenário da Independência, na Quinta da Boa Vista, e reparos em trechos das calçadas da Praça General Tibúrcio, na Urca, e do calçadão da Avenida Atlântica, na altura do Leme.

A secretária de Conservação, Anna Laura Valente Secco, comemorou a formatura.

 

– A profissão de calceteiro é uma arte que precisa ser preservada. Temos orgulho de formar uma turma de trabalhadores aptos a exercer essa função, tão importante para a nossa cidade, repleta de mosaicos belíssimos. É com alegria que anuncio que os alunos desempregados já foram contratados por empresas.

 

O secretário de Trabalho e Renda, Alexandre Arraes, falou do acesso dos formandos a linhas de crédito.

 

– Estamos fechando o Microcrédito Produtivo Orientado com a InvestRio SICOOB para os que desejarem ter suas MEIs. A formalização do empreendedorismo irá impactar o PIB Nacional em R$ 700 bilhões até 2026, segundo estudos do economista Daniel Duque (Ibre/ FGV). Solicitamos a ele o impacto no município para comprovar em números os resultados esperados com o trabalho da Prefeitura neste sentido.

 

Primeira turma com mulheres

Um dos destaques do curso de calceteiros foi a participação feminina. Pela primeira vez, duas mulheres estavam entre os formandos: Neusa Maria de Oliveira, de 59 anos, e Nilma Faria de Aguiar, de 55 anos. Neusa, que é técnica em edificações, já fez diversos cursos voltados para a construção civil, como o de encanadora. Nilma, por sua vez, é mais ligada ao lado artístico, tendo trabalhado como aderecista em escolas de samba e na produção de novelas. Ambas já foram convocadas para uma vaga de emprego.

Neusa aceitou o desafio de entrar em mais uma área que costuma ser dominada por homens.

 

– Sou uma pessoa inquieta, procuro sempre me atualizar a fim de conseguir um lugar no mercado. Não é fácil, principalmente para quem já passou dos 50. Não tenho medo de trabalhar na rua, debaixo de sol e chuva. E vejo o ato braçal de quebrar as pedras como sendo o lapidar de um diamante.

 

Nilma sempre admirou as calçadas em pedras portuguesas.

 

– Gostava de olhar os desenhos em lugares como o Largo da Carioca e o Castelo. O curso abriu meus olhos para a importância de colocar bem as pedras, de maneira que o resultado fique, além de bonito, seguro para as pessoas andarem. Não é um trabalho de pedreiro, é uma arte que faz parte da nossa história e precisa ser preservada. Falei do curso para a minha irmã e ela está disposta a entrar em uma próxima turma.

 

Oportunidade para moradores de abrigos

Além da qualificação profissional, um grupo de formandos saiu do curso com uma nova perspectiva. Sete participantes vieram de abrigos da Prefeitura do Rio e estão aptos a trabalhar como calceteiros. Fernando Dias Lopes, de 45 anos, já foi pedreiro, pintor e ajudante de alvenaria. Quando soube do curso, não perdeu tempo:

 

– Vejo como uma grande oportunidade na minha vida profissional, pois gosto de desenho. Ser calceteiro será bastante prazeroso.

 

Jonas Souza da Silva, de 29 anos, veio da cidade baiana de Cruz das Almas para tentar a vida no Rio de Janeiro. Indicado para o curso pelo projeto Resgate, parceria entre as secretarias municipais de Assistência Social e Trabalho e Renda, ele se destacou nas aulas revelando mais um talento artístico: a poesia. Representando a turma, Jonas leu o poema que fez especialmente para a formatura, inspirado pela experiência vivida no curso.

 

– Sou o primeiro calceteiro da minha família e quero passar essa arte adiante – afirmou Jonas.

 

Jonas Souza da Silva recita poema em formatura de curso de calceteiros - Divulgação / Prefeitura do Rio
Jonas recita poema em formatura de calceteiros – Divulgação / Prefeitura do Rio

 

Visita ao Palácio de São Clemente

Na semana anterior à formatura, os alunos visitaram o Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro, onde foram recebidos pela cônsul-geral, Maria Gabriela Soares de Albergaria, e conheceram o Palácio de São Clemente, residência oficial da diplomata. A construção, em Botafogo, tem pedras portuguesas na área externa e em alguns ambientes da parte interna. A secretária de Conservação, Anna Laura Valente Secco, e o secretário de Trabalho e Renda, Alexandre Arraes, acompanharam a visita.

Maria Gabriela Soares de Albergaria enfatizou a importância das calçadas portuguesas.

 

– As pedras portuguesas, para além do valor em termos de história, têm um valor patrimonial também. Estou muito satisfeita por ver que terminaram o curso e estão muito mais capacitados e entusiasmados em seguir essa profissão e a fazer coisas tão bonitas como aquelas que vemos na orla de Copacabana.

 

O certificado que os alunos do curso receberam nesta quinta-feira – Rafael Catarcione/Prefeitura do Rio
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