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Praça Onze Maravilha: projeto que vai transformar a região da Praça XI e do Sambódromo
Publicado em 20/11/2025 - 15:53 | Atualizado em 20/11/2025 - 15:54- Início/
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- Praça Onze Maravilha: projeto que vai transformar a região da Praça XI e do Sambódromo
Lançamento do projeto Praça Onze Maravilha, na quadra da escola de samba Estácio de Sá - Foto: Beth Santos O prefeito do Rio, Eduardo Paes, apresentou, nesta quinta-feira (20/11), na quadra da escola de samba Estácio de Sá, na Cidade Nova, o projeto Praça Onze Maravilha, um conjunto de ações que vão transformar a região e o entorno do Sambódromo, com investimentos de cerca de R$ 1,75 bilhão. A transformação começa pela demolição do Viaduto 31 de Março, que abre caminho para um novo desenho urbano e para a chegada da Biblioteca dos Saberes, projetada pelo arquiteto Francis Kère, vencedor do prémio Pritzker, considerado o prêmio Nobel da Arquitetura. O novo projeto tem como inspiração o Porto Maravilha, que requalificou com investimentos privados um importante espaço público, com valorização do patrimônio histórico e cultural, promoção da habitação e melhoria da mobilidade urbana.
– A profecia de Grande Otelo e Herivelto Martins revela a alma encantada das ruas, a missão de investirmos na Praça Onze, no Sambódromo, nesta região que também é Pequena África. Este mapa afetivo dos saberes cariocas, desenhado por Heitor dos Prazeres, nunca deixou de existir nos sambas e em instituições culturais como a Estácio. Neste Dia Nacional da Consciência Negra, dia de Zumbi dos Palmares, temos a responsabilidade de estar à altura, no presente, do legado de uma cidade que canta e conta suas histórias – afirmou o prefeito Eduardo Paes na apresentação do evento.
O projeto, que será financiado com recursos privados, marca um novo capítulo na história urbana do Rio e reforça a importância da Praça Onze e da Pequena África como territórios de memória, cultura e mobilidade. O anúncio foi feito no dia da Consciência Negra.
– O projeto Praça Onze Maravilha vai recuperar uma área que é fundamental na história da cidade, como nós vimos aqui nesse palco, com investimento mais uma vez bancado pela iniciativa privada: serão investidos quase 2 bilhões de reais na transformação daquela região, que vai complementar o processo de revitalização do Centro. Vão ser quase 40 mil novas unidades residenciais, e mais de 100 mil novosmoradores esperados nos próximos vinte anos. Com a demolição do Viaduto 31 de Março, vamos permitir a reconexão do nosso povo com as ruas. E ruas que carregam um simbolismo gigantesco, porque ali foi criado o samba. E assim como o Porto Maravilha teve a sua cereja no bolo, que foi o Museu do Amanhã, a Praça Onze Maravilha vai ter o seu símbolo maior: a Biblioteca dos Saberes! – destacou o vice-prefeito Eduardo Cavaliere no palco ao lado de Eduardo Paes.
A mestre de cerimônia do evento foi a atriz Elisa Lucinda. Entre os convidados, estava a escritora Conceição Evaristo, além de sambistas, produtores culturais, secretários municipais e políticos. Os shows ficaram por conta da bateria da Estácio de Sá e do grupo Trio Júlio.
Requalificação urbana: novas ligações, mais acessibilidade e um novo desenho para a região
O Praça Onze Maravilha reúne intervenções que mudam a escala da área e restabelecem ligações históricas que foram perdidas ao longo do tempo. A remoção do Viaduto 31 de Março vai permitir reconectar o Centro, o Estácio e o Catumbi, recuperando ligações que haviam sido perdidas. A mudança melhora a circulação de quem vive, trabalha ou visita a região e devolve à Praça Onze o seu papel histórico como ponto de encontro da cidade.
– Nosso plano urbano para o entorno do Sambódromo propõe requalificar a área a partir da demolição do Elevado 31 de Março, um viaduto construído na década de 1960, parte de uma paisagem urbana que se espalhou pela cidade neste período: as vias expressas, avenidas de alta velocidade cruzando a cidade em áreas urbanisticamente consolidadas revelou o arquiteto Rodrigo Azevedo, responsável pelo projeto Boulevard do Samba e que também esteve na apresentação do Praça Onze Maravilha.
O projeto inclui abertura de novas vias e a implantação de um mergulhão entre as ruas Frei Caneca e Salvador de Sá, com a criação de uma praça sobre a estrutura. A intervenção facilita os acessos entre os bairros e simplifica os deslocamentos na região.
No entorno da Marquês de Sapucaí, as calçadas serão mais largas e permeáveis, com melhorias na drenagem, nova iluminação e mais áreas verdes. O Sambódromo permanece preservado em sua estrutura, porém com acessos modernizados e suporte logístico mais eficiente, tanto no período do Carnaval quanto no dia a dia. Áreas, hoje, subutilizadas serão ocupadas por novas unidades residenciais, com comércio e serviços no térreo. Essa reocupação reforça a integração com o Centro e ajuda a criar uma região mais viva.
No evento, o arquiteto Marcos Damon falou sobre o Centro Cultura Rio-África, projeto de sua autoria e que faz parte do Praça Onze Maravilha.
– A arquitetura do Centro Cultural Rio-África busca estabelecer uma conexão sensível entre ancestralidade africana e o legado da arquitetura brasileira, dialogando com o entorno histórico da Pequena África. O espaço é concebido como resistência e celebração.
Já o arquiteto Duda Porto apresentou aos convidados o projeto Parque do Porto:
– É um porto sobre as águas, uma ilha totalmente viva, com uma conexão completa entre natureza e cidade. Um projeto que respeita totalmente a integridade da Baia de Guanabara e todos os seus processos naturais. O Parque do Porto é pensado para os moradores, que ganharão uma área verde extensa, fresca e com vida, que une cultura, gastronomia e convivência.
Modelo de viabilidade econômica
Para viabilizar as intervenções, a Prefeitura enviará um Projeto de Lei à Câmara de Vereadores, que propõe a criação da Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) Praça Onze Maravilha. A nova área, de 2,5 milhões de metros quadrados, engloba ruas dos bairros Catumbi, Estácio, Cidade Nova e Praça XI, como Rua Frei Caneca, Rua dos Inválidos, Av. Paulo de Frontin, Praça da República, Praça da Cruz Vermelha e Av. Presidente Vargas.
A lei da AEIU traz regras urbanísticas específicas para a região, como gabarito e taxa de ocupação, para permitir a construção dos residenciais e a oferta de serviços para os novos moradores. Somente na Praça Onze Maravilha, serão construídas 37,5 mil unidades residenciais nos próximos 25 anos, com a expectativa de atrair mais de cem mil moradores.
Os investimentos privados serão realizados por meio de contratos de concessão e Parcerias Público-Privadas (PPPs), que mesclam diferentes instrumentos, como potencial construtivo e pagamento de outorga onerosa. Além disso, o Município irá criar um fundo imobiliário com imóveis e terrenos públicos que poderão ser utilizados na operação.
A proposta será discutida em audiência pública ainda neste ano, e o projeto de lei será enviado à Câmara Municipal até dezembro.
Biblioteca dos Saberes
A Biblioteca dos Saberes, projetada por Francis Kéré, vencedor do Prêmio Pritzker, será um dos principais equipamentos culturais do Rio nas próximas décadas. Com mais de 40 mil metros quadrados, o edifício terá cobogós, pilotis e jardins suspensos que conferem leveza a uma arquitetura de escala monumental.
– Pretendemos que este projeto promova um espaço de diálogo e reflexão. Desejamos que as pessoas se reúnam para ouvir e compreender a história do Brasil, os acontecimentos que nos trouxeram até aqui e como nos construímos como nação. Este é o cerne do projeto. Um local onde todos se sintam acolhidos, como em um terraço. A estrutura não é apenas um prédio, mas, sim, uma extensão das favelas e do Rio de Janeiro, algo que transcende Copacabana, pois oferece uma visão ampla da cidade. Criamos um espaço aberto a todos, conectando diferentes realidades, como os terraços e as favelas, integrando-os. Buscamos a construção de um espaço que valorize a história, a reflexão e o encontro, tornando-se um local de aprendizado e crescimento para todos – disse o arquiteto Francis Kéré.
O espaço será dedicado à memória, ao conhecimento, às expressões populares e à biodiversidade, reunindo teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo e áreas expositivas. No centro do edifício, uma torre circular de quatro andares aberta à luz natural simboliza a universalidade do conhecimento. Inspirada no manto Tupinambá e nas arvores da vida, a torre reforça que cultura e saber são instrumentos de transformação e pertencimento.
A Biblioteca integrará acervos de iniciativas, como o Museu de Imagens do Povo, e adotará modelos de mediação cultural inspirados em experiências internacionais, como o V&A East Museum, em Londres. O local escolhido, o Terreirão do Samba, ao lado do monumento a Zumbi dos Palmares, está no coração da Pequena África, território onde nasceu o samba e a identidade cultural da cidade. Construir ali a Biblioteca dos Sabres reafirma que o patrimônio intelectual do Rio também nasce da cultura popular e das ruas.
A Biblioteca dos Saberes é o principal legado do Rio Capital Mundial do Livro e tem como objetivo fundamentar o processo de democratização do livro e da bibliodiversidade na cidade do Rio de Janeiro. Coordena a integração entre bibliotecas públicas e comunitárias, das melhores práticas em urbanismo e infraestrutura à composição dos acervos da cidade.
Francis Kéré
Durante sua visita ao Rio, Francis Kéré percorreu lugares que revelam camadas da cidade: viu o manto tupinambá, no Museu Nacional de Belas Artes, caminhou pelo jardim de Roberto Burle Marx, conheceu o Edifício Capanema — ícone do modernismo brasileiro —, e esteve na Pedra do Sal com Teresa Cristina e a velha guarda da Portela. Encontrou-se ainda com Conceição Evaristo, autora que transformou a ideia de “escrevivência” em fundamento literário e político. Esses encontros não foram protocolares: foram diálogos entre formas de saber, escuta e presença — e antecipam a alma da futura biblioteca.
Nascido em Burkina Faso, Diébédo Francis Kéré se formou na Universidade Técnica de Berlim. Ele é cidadão alemão e residente na capital do país desde 1985. Em paralelo aos seus estudos e trabalhos, criou a Fundação Kéré e posteriormente abriu seu próprio ateliê, o Kéré Architecture. O seu trabalho é reconhecido internacionalmente com prêmios como o Prêmio Aga Khan de Arquitetura de 2004 pelo prédio da escola primária de Gando, em Burkina Faso, a medalha de ouro no Global Award for Sustainable Architecture e o Prêmio Pritzker, considerada a maior premiação da arquitetura mundial, em 2022.
Transformações que inspiram: da Perimetral ao Praça XI Maravilha
O Praça XI Maravilha se conecta ao processo de revitalização da Zona Portuária do Rio, iniciado em 2009, quando foi aprovada a lei criando o Porto Maravilha. Em 2013, a Prefeitura iniciou umas das fases mais ambiciosas desse projeto: a implosão do Elevado da Perimetral, finalizada no ano seguinte. O projeto de revitalização urbana da Zona Portuária teve investimentos privados de R$ 8,9 bilhões, na área original de 5 milhões de metros quadrados. Hoje, a área total do Porto Maravilha tem 8,7 milhões de metros quadrados, com a expansão para a região de São Cristóvão.
Em dez anos do projeto de recuperação da região do Porto Maravilha, o carioca ganhou novas opções de lazer, cultura e mobilidade urbana. Foram modernizadas vias, redes de drenagem, infraestrutura e foram criadas áreas públicas. O VLT foi implantado, o Cais do Valongo foi descoberto, valorizado e reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial. Nos últimos anos, a Prefeitura do Rio intensificou os incentivos à habitação na região, gerando interesse do mercado imobiliário.
O lançamento de unidades residenciais chegará a 20 mil, em 23 condomínios diferentes, em quatro anos. A estimativa é de que mais de 60 mil pessoas morem nas áreas do Porto Maravilha e do Reviver Centro, até 2029, consolidando sua reocupação com moradias definitivas e infraestrutura urbana. Com a inclusão de São Cristóvão, a expectativa é que o Porto Maravilha tenha 100 mil unidades residenciais até 2064, com potencial para atrair 250 mil moradores. Para a Prefeitura do Rio, o resultado é fruto do plano de mudar a lógica de crescimento da cidade das zonas Oeste e Sudoeste para as regiões centrais do Rio, que já contam com vasta infraestrutura.
E a região do Porto Maravilha vai ganhar a primeira ilha flutuante do Parque do Porto, projeto anunciado no ano passado e que começa a ganhar forma. A primeira ilha flutuante será construída próximo ao Museu do Amanhã, com uma área total de mais de 16,8 mil metros quadrados, e terá praça gastronômica com restaurantes, quiosques e lojas na área central, uma arena de eventos, um jardim escultório, um parque lúdico, uma marina e um deck flutuante.
Assim como no Porto, o projeto Praça Onze Maravilha reafirma a estratégia de transformar o espaço urbano a partir da valorização de territórios marcados pela memória afro-brasileira, da integração dos modais de transporte da cidade. A reconstrução da Praça Onze amplia esse corredor cultural que reúne o Cais do Valongo, a Pedra do Sal, a Praça Onze e o Sambódromo, fortalecendo o eixo de patrimônio, cultural, mobilidade e desenvolvimento urbano.
Sobre o cortejo
Após a cerimônia, o prefeito Eduardo Paes, o vice-prefeito Eduardo Cavaliere e o arquiteto Francis Kéré caminharam até o Centro de Artes Calouste Gulbenkian. O grupo será acompanhado pela Bateria da G.R.E.S. Estácio de Sá no trajeto que passou por dentro do Sambódromo. Ao chegar no Calouste Gulbenkian, encontraram com a concentração do tradicional Cortejo da Tia Ciata, onde aconteceu uma troca das baterias. O cortejo saiu do local, passando pela Avenida Presidente Vargas em direção ao Monumento Zumbi dos Palmares, onde aconteceu a dispersão.
A chegada do Cortejo da Tia Ciata ao Monumento Zumbi representa o encontro de dois personagens emblemáticos da cultura negra brasileira, separados pelo tempo e unidos pela região da Praça Onze, área simbólica da resistência cultural e étnica cariocas. Tia Ciata foi uma Iyá Kékeré (Mãe Pequena) conhecida também por seus quitutes e pelos encontros musicais e culturais promovidos em sua casa próxima à Praça Onze.
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