Peça teatral emociona ex-moradores de rua que vivem em abrigos da Prefeitura do Rio

Publicado em 14/01/2020 - 15:22 | Atualizado em 14/01/2020 - 16:44
O monólogo "Nefelibato" é encenado pelo ator Luiz Machado, que encarna Anderson, um homem que perdeu tudo nos anos de 1990. Foto: Márcio Leandro/ Prefeitura do Rio

Cerca de 50 ex-moradores de rua que estão sob proteção da Prefeitura do Rio viveram um dia especial na tarde da última segunda-feira (13/01): assistiram pela primeira vez a uma peça de teatro. No Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá, homens e mulheres atendidos pelo Governo Municipal em quatro dos 63 abrigos – 39 públicos e 24 conveniados – do município se emocionaram com a peça que retrata a vida de quem não tem teto e perambula pelas ruas da cidade. A iniciativa faz parte do projeto “Circulando”, da  Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH). A apresentação se repete até o dia 3 de fevereiro, às sextas, sábados e segundas-feiras, sempre às 20h, e aos domingos, às 19h.

O monólogo “Nefelibato” é encenado pelo ator Luiz Machado, que encarna Anderson, um homem que perdeu tudo, diante dos efeitos devastadores da crise econômica nos anos de 1990, passando a viver numa praça. O personagem leva ao público reflexões sobre família preconceito, loucura, dinheiro, política e família. Após a apresentação, houve debate com a participação do diretor Amir Haddad. Segundo dados da última pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2016, mais de 101 mil pessoas vivem nas ruas em todo o Brasil.

 

Na plateia, ex-moradores se emocionaram e debateram a peça, que os remeteu ao passado. Foto: Márcio Leandro/ Prefeitura do Rio

 

Na platéia, muita emoção

Os ex-moradores de rua que assistiram a peça vivem no Complexo da Ilha do Governador, Hotel Solidário Bonsucesso, Rio Acolhedor e Hotel da Central do Brasil.

– Eu não sei exatamente o motivo que me levou a morar na rua, são tantas pressões sociais e responsabilidades, que por um momento eu perdi o controle e quando vi já estava na rua. Estou muito feliz em estar aqui (no teatro), me emocionei e me identifiquei em algumas cenas. Queria agradecer ao Hotel solidário que me acolheu, e pela oportunidade de estar aqui hoje – resumiu Ricardo Santos, um dos ex-moradores de rua, confessando que nunca imaginou que um dia assistiria a um espetáculo teatral.

Luiz Machado também se disse feliz por ter atuado para uma platéia “tão especial”.

–  Tinha essa expectativa, de ver meu personagem, um homem de rua, despertando identificcações e emoções junto a eles (ex-moradores de rua). É uma relação de sensações incrível – ressaltou o ator.

Acolhendo pessoas em situação de rua, a SMASDH vem cumprindo seu papel, promovendo oportunidades para que elas vençam diversos tipos de barreiras sociais.

– Parabenizo a toda equipe que se dedica todos os dias a esse trabalho, que resgata a autoestima, bem como inclui socialmente cidadãos de populações mais vulneráveis – afirma o secretário João Mendes.

Como é o Projeto Circulando?

O projeto leva moradores de abrigos da prefeitura para passeios por diferentes aparelhos culturais e esportivos do Rio de Janeiro, entre eles, por exemplo, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o Teatro Municipal, Estátua do Cristo Redentor e o Maracanã.

Ex-moradores de rua também atuam

Em outubro do ano passado, o “Festival Desculpe Incomodar  – Arte para Pessoas em Situação de Rua”, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, promoveu, durante dois dias, oficinas, palestras, rodas de conversa e feira de artesanato em pelo menos 50 pontos espalhados pela cidade. Na ocasião, cariocas puderam se emocionar com as atuações dos ex-moradores de ruas.

Um pouco sobre a peça

Com 25 anos de carreira (incluindo teatro, TV e cinema), Luiz Machado tem em “Nefelibato” o primeiro monólogo.

– Anderson é alguém que vive situações limite. Um equilibrista no fio tênue entre lucidez e loucura, vida e poesia – comenta o ator.

O quanto de loucura é necessário para o ser humano não perder a própria vida? Essa pergunta acompanhou o diretor Fernando Philbert ao longo do processo da montagem.

– Quis tratar do instinto de sobrevivência que o ser humano tem e esquece que tem. Viver na rua é o caminho que ele encontrou para continuar vivo – destaca o diretor.

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