Do abrigo público rumo à Espanha

Publicado em 15/01/2020 - 18:45 | Atualizado

A história de Marcos Vinícius da Silva, de 24 anos, é parecida com a de muitos outros jovens, que cheios de sonhos e anseios deixam a cidade natal para tentar uma nova oportunidade de vida na Cidade Maravilhosa. O mineiro que até então morava com a mãe em Belo Horizonte (MG) passou por problemas familiares e decidiu, munido apenas de sua vontade de vencer e muita coragem, aventurar-se no Rio de Janeiro.

Arriscou e seguiu sozinho para a terra que faz parte do imaginário de tantos homens e mulheres espalhados pelo Brasil. Porém, ao se deparar com a veracidade de uma cidade maior e com desafios que até então não conhecia, Marcos se viu sozinho. Sem conseguir um emprego e já sem dinheiro algum, acabou por enfrentar a dura situação de viver nas ruas. “Senti medo. A realidade de quem mora ao relento não é nada fácil. Nas ruas eu me vi próximo de muitos usuários de drogas. Foi uma experiência terrível e eu não desejo isso para ninguém” — relembra.

Foi quando a sorte de Marcos começou a mudar. Durante este período a equipe técnica da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) o encontrou e ofereceu acolhimento, ele prontamente aceitou e foi então residir na Unidade de Reinserção Social (URS) Realengo, na Zona Oeste da cidade. No local, encontrou muito mais do que abrigo, recebeu respeito, atenção e todo o apoio básico necessário para iniciar a vida nova que estava buscando. “A URS é um lugar que tem uma boa estrutura e conta com profissionais que querem ver o progresso dos residentes, eles acompanham os casos diariamente e tem muito cuidado quando se trata de pessoas em situação de rua” — conta Marcos.

Porém, ele sabia que não era aquilo o que queria em sua vida. “Eu não iria me acomodar. Enxerguei como algo temporário, me programei para sair daquela situação, mesmo sem ter nada para reclamar do abrigo. As pessoas que trabalham lá são bem capacitadas e agem com profissionalismo, além de mostrar que gostam do que fazem. Fui muito bem recebido, encontrei chances para conseguir recuperar tudo aquilo que perdi. Me senti bastante acolhido”.

Marcos de fato não se acomodou, logo conseguiu alguns trabalhos informais, como, por exemplo, entregar panfletos e começou a ganhar o seu dinheiro, o que para ele tinha um destino certo. Era preciso juntar para alugar um apartamento, sair do abrigo e comprar as passagens para a Espanha. O rapaz já havia morado na Espanha quando adolescente, logo após o divórcio de seus pais, onde teve experiência com trabalhos em restaurantes em atendimento ao público. Além da experiência com o trabalho, aprendeu mais três idiomas: francês e espanhol, que fala fluentemente, além do inglês que atingiu o nível intermediário. Ao voltar para o Brasil continuou estudando e hoje está ainda melhor nas novas línguas.

Vida nova após o abrigo — Hoje, Marcos Vinicius conseguiu deixar o abrigo e conquistou o primeiro sonho, alugou um apartamento, também na Zona Oeste, trabalha como garçom em um restaurante de uma grande rede nacional e está se reinserindo na sociedade, através de muito esforço e dedicação. “As pessoas sempre me perguntam, se eu estou bem, e eu conto que sim, que já estou em minha casa. Tranquilizei os profissionais da Secretaria que acompanhavam o meu caso. Já comprei minhas passagens, e em abril irei voltar para a Europa, tenho o meu foco, foi isso que me ajudou a crescer”. Ele conta também que seu maior sonho é consolidar a vida na Espanha, onde já tem emprego certo. O pai de Marcos trabalha em um restaurante e o jovem irá trabalhar com ele.

Sobre o novo passo que deu Marcos é bem claro. “Existem pessoas que estão acostumadas com aquele ciclo de vulnerabilidade, mas eu não. É muito bom ter uma casa, ter dignidade, fazer tudo do jeito que eu quero. Aqui eu tenho privacidade e faço meus horários. Agradeço muito a Deus! Fico feliz porque tudo aquilo que passei me fortaleceu. Posso andar de cabeça erguida” — comemora.

No atual emprego ele se empenhou e não deixou o fato de morar em um abrigo público atrapalhar o seu objetivo. “Meus colegas ao saber que eu morava no abrigo não tiveram preconceito comigo, viram minha conduta, meu caráter e me trataram muito bem. O país esta passando por uma situação difícil. O desemprego é grande então temos que dar valor para aquilo que temos”.

Sobre o tempo que passou no abrigo ele diz que terá boas lembranças. “Afinal, não foi só um lugar onde se passa uma temporada. É um lugar onde se cria vínculos. São pessoas que passaram pela minha vida, me ensinaram e deixaram lembranças”.

  • 15 de janeiro de 2020
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