O ARQUIVO EM UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO


Refletir sobre a inserção dos arquivos municipais em um mundo em transformação é assunto de extrema contemporaneidade, uma vez que o novo milênio encontrou, já em curso, uma verdadeira revolução tecnológica - principalmente na área de informação - que vem provocando mudanças aceleradas em todos os níveis da vida social e atingindo as regiões mais remotas do planeta. A passagem de uma sociedade de produção para uma sociedade da informação tem causado profundas alterações na maneira de pensar e de agir e, no bojo dessas mutações, o acesso rápido à informação tornou-se o diferencial que assegura o êxito de qualquer iniciativa, em todo o campo da atuação humana. Usufruir do privilégio de produzir, acessar e controlar a informação tornou-se um dos principais determinantes da relação de força e desenvolvimento sociocultural, contribuindo para aprofundar as desigualdades existentes não só entre os países, como também entre distintos segmentos da sociedade que não têm acesso à estas ferramentas.

 

Embora os avanços tecnológicos tenham favorecido a obtenção da informação no chamado tempo real, ela não é acessível a todos e nem sempre provém de fonte confiável. Neste contexto, abundam os "arquivos" criados sem nenhum critério, os dados forjados ou obtidos aleatoriamente e que circulam com ares de veracidade pelos meios de comunicação. A informação, em nossos dias, tem um caráter altamente volátil e, com a mesma rapidez com que é produzida e disseminada, sofre um processo de descaracterização, ou é descartada, sem que nenhuma preocupação com a preservação da memória presida essas decisões. Lidar com a volatilidade e com a velocidade do mundo digital é um novo desafio para os arquivos públicos, na maioria das vezes ainda operando com os suportes tradicionais ou apenas recém-ingressos na era da informação eletrônica.

 

Por outro lado, estudiosos como Pierre Nora chamam a nossa atenção para a incrível proliferação, no mundo contemporâneo, de museus, arquivos públicos e privados e centros de documentação. Atribuiu essa compulsividade de guardar, colecionar e preservar existente nas sociedades ao temor que elas têm do esquecimento.

 

Portanto, enquanto uns nada querem preservar e, em nome da modernidade, tornam tudo rapidamente perecível e descartável, conferindo pouca importância à autenticidade e à origem das informações, outros tudo querem conservar, sem adotar critérios de pertinência, subestimando a capacidade de geração de conhecimentos que as sociedades atuais detêm, em ritmo jamais igualado anteriormente, fato que torna verdadeiramente impossível manter todos os registros da passagem dos seres humanos pelo planeta.

 

Nesse universo complexo e em constante mutação, constitui um desafio para os arquivos definir o seu papel, de forma que as gerações futuras não nos interroguem pela nossa negligência com o presente que será, indubitavelmente, o seu passado, e sobre o qual se debruçarão para evocar seus antepassados e suas raízes, para procurar laços que os mantenham coesos e lhes permitam afirmar suas identidades.